Como Fazer um Autêntico Churrasco Estilo Gaúcho

By Fernando Fonseca on about alimentaçãorestaurante

Se você já esteve em um churrasco feito por um gaúcho legítimo, certamente percebeu algo diferente: aquele sabor defumado, a simplicidade dos temperos e a sensação aconchegante ao redor do fogo. Mas já tentou fazer isso em casa e acabou com um resultado distante daquela maravilha? Pois é, isso acontece mais do que você imagina. E eu vou te explicar exatamente por quê.

Escolher bem a carne é metade do sucesso (e não é exagero)

Antes de qualquer coisa, precisamos falar sobre a carne, porque se ela não for boa, não adianta técnica perfeita nem churrasqueira de luxo. No sul, especialmente no Rio Grande do Sul, a carne não é só um alimento: é uma tradição, quase uma religião. E o gaúcho entende muito bem disso.

Primeiro, esqueça cortes muito finos. Um bom churrasco gaúcho pede cortes mais robustos, com gordura suficiente para derreter lentamente e dar aquele gosto irresistível. Uma boa costela bovina é o símbolo máximo desse churrasco. Tem que ter gordura, carne entremeada, e é claro, osso, que dá sabor e protege a carne do calor excessivo. Mas não precisa se limitar a isso. Vazio, maminha, picanha (claro!), e até cordeiro são muito bem-vindos.

A carne precisa ser fresca, com uma gordura bem branquinha. Se estiver amarelada, significa que o animal era mais velho ou o armazenamento não foi ideal. E isso muda completamente o gosto.

A arte simples de temperar sem exageros

Agora, talvez você já tenha visto algum vídeo na internet ensinando marinadas complexas, com alho, ervas, temperos exóticos. Se você quiser ser fiel ao estilo gaúcho, esqueça tudo isso agora mesmo. O churrasco gaúcho pede simplicidade absoluta: apenas sal grosso. O segredo é a moderação. É muito fácil exagerar e acabar salgando demais. O ideal é espalhar o sal grosso pela carne minutos antes de levá-la ao fogo, e nada mais. Algumas carnes, como o cordeiro, aceitam bem um leve toque de limão e alecrim, mas isso já é quase uma inovação.

Fogo e brasa: o coração do churrasco gaúcho

É curioso como as pessoas investem em churrasqueiras caras, espetos inoxidáveis, mas esquecem que o verdadeiro sabor do churrasco vem do fogo. Não adianta pressa. Você não vai conseguir um bom resultado com chamas altas lambendo a carne. O gaúcho sabe que o segredo é cozinhar lentamente, deixando a gordura derreter devagarinho e envolver toda a carne.

A brasa é o grande segredo. Nada de carne direto nas chamas: espere a lenha (ou carvão, se preferir algo mais prático) virar aquela brasa bem vermelha, quase branca. Ela deve emitir calor constante, sem labaredas. Falando nisso, uma dica valiosa que pouca gente dá atenção: se você puder, misture carvão com um pouco de lenha. Lenha traz um sabor defumado bem típico, que é justamente o toque que falta quando você come em restaurantes e sente que “não está igual ao churrasco lá do sul”.

A distância da carne até a brasa também importa muito. Idealmente, o espeto deve ficar entre 30 e 40 centímetros acima do fogo, permitindo que a carne cozinhe devagar. Um dos erros mais comuns é colocar a carne muito próxima da brasa para acelerar o processo. Resultado? Carne tostada por fora, crua por dentro e seca na hora de servir. Definitivamente, não é o que você quer. As propriedades do assado de tira permitem que esse tipo de preparo seja feito até mesmo com esse tipo de carne.

O ponto da carne: acertar aqui é conquistar elogios

Gaúchos têm suas preferências pessoais, mas em geral, eles prezam a carne mal passada ou ao ponto, jamais totalmente passada (chamada brincando de "sola de sapato"). Para isso, é preciso paciência e um olho atento. Vire o espeto uma única vez. Isso mesmo, sem ficar girando de lá pra cá. Ao virar só uma vez, você garante que o calor penetre corretamente, resultando em uma carne suculenta por dentro e perfeitamente dourada por fora.

Quer uma dica infalível? Observe o sumo da carne. Quando começar a escorrer, é hora de virar. E quando escorrer novamente do outro lado, pode tirar e servir, sem medo de errar.

Um ritual de convívio e descontração

Mas o churrasco gaúcho não é só técnica, carne boa e fogo perfeito. É, acima de tudo, um momento para reunir amigos e familiares ao redor da churrasqueira. Gaúchos gostam de estar próximos do fogo, conversando, contando histórias e tomando um chimarrão ou uma cerveja gelada enquanto a carne vai ficando pronta. O churrasco é tão bom quanto a companhia ao redor dele. Lembre disso.

E, por favor, sirva a carne direto do espeto, cortando fatias generosas para cada pessoa ali mesmo, na hora. Nada de deixar a carne esfriando na travessa. Churrasco gaúcho é servido quente, com a gordura escorrendo, e acompanhado preferencialmente de pão francês ou uma salada de maionese caseira – isso sim, um acompanhamento que combina perfeitamente e ninguém sabe bem explicar o motivo.

Bebidas e acompanhamentos que combinam (e outros nem tanto)

Por fim, escolha bebidas que combinem com a carne e o clima descontraído. Cerveja gelada é quase unanimidade, mas um bom vinho tinto também vai muito bem, principalmente com carnes mais gordurosas. Refrigerantes são bem-vindos, claro, mas acabam roubando um pouco o protagonismo da carne – opinião minha, fique à vontade para discordar.

E, acima de tudo, aproveite. Churrasco gaúcho é menos sobre técnica perfeita e mais sobre o prazer simples de reunir pessoas queridas e saborear algo feito com paciência e carinho.

Pronto. Agora você sabe todos os segredos para acertar no seu churrasco gaúcho. Experimente sem pressa e depois me conte se deu certo. Tenho certeza que sim!